1º Encontro Nacional de LGBT+ Eleites reuniu parlamentares eleitos em 2022. Foto: Maíra Nunes/Diadorim
1º Encontro Nacional de LGBT+ Eleites reuniu parlamentares eleitos em 2022. Foto: Maíra Nunes/Diadorim
política

Em encontro, parlamentares LGBTI+ comemoram eleição e falam dos desafios dos mandatos

Evento aconteceu em Brasília na sexta-feira (20 jan.), organizado pela ONG VoteLGBT

O clima era de celebração no 1º Encontro Nacional de LGBT+ Eleites, realizado em Brasília, na sexta-feira (20 jan.). O motivo foi a eleição de 18 candidaturas declaradamente LGBTI+ para o legislativo brasileiro em 2022. O número é o dobro do obtido em 2018, quando foram eleitas nove pessoas LGBTIs no Brasil. Agora, o feito é ainda mais especial porque entre as eleitas estão as duas primeiras trans que atuarão na Câmara dos Deputados: Erika Hilton (PSOL-SP) e Duda Salabert (PDT-MG), somando 250 mil e 200 mil votos, respectivamente.

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A reunião foi organizada pela ONG VoteLGBT, que monitora e cataloga candidaturas dessa população. Com o lema “Representatividade é poder”, o evento contou ainda com participação de representantes da sociedade civil e do governo federal, entre elas a secretária Nacional dos Direitos da População LGBTQIA+, Symmy Larrat.

“VoteLGBT começou em 2014 com apenas uma candidatura LGBT, a do Jean Wyllys, na época reeleito como deputado federal do Rio de Janeiro. Por isso, ter tido 18 pessoas LGBTs que foram eleitos nesse encontro de hoje tinha de ser celebrado”, explica Bru Pereira de Araújo, diretora vice-presidenta da organização.

O evento também teve como proposta promover um espaço de reconhecimento e articulação entre as parlamentares, refletindo sobre quais passos tomar para uma maior presença LGBT+ na política e nos diversos espaços sociais. “O encontro não se limitou às trans. Mulheres cis gênero também estiveram presentes junto à essa comunidade LGBTQIA+ que achamos tão importante reunir”, pondera Keila Simpson, presidenta da Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais). Segundo ela, é uma tentativa de encontrar caminhos para continuar buscando uma maior inclusão social, respeitabilidade e possibilidade de fazer novas ações para a população que tanto necessita.

A mesa “Por uma política trans e travesti” foi pensada para ouvir as parlamentares, representantes dos ministérios e da sociedade civil sobre a importância de pessoas trans e travestis ocuparem espaços políticos e pensarem em políticas públicas para essa parcela da população. Primeira deputada federal travesti eleita por Minas Gerais em 2022, Duda Salabert fez um relato doloroso das violências sofridas na sua trajetória política e alertou para a necessidade de se pensar mecanismos e estratégias para combater toda essa violência no processo eleitoral e na participação dos espaços políticos.

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A deputada estadual Dani Balbi (PCdoB-RJ) levou a perspectiva de uma mulher trans negra da periferia do Rio de Janeiro, que usa essa experiência atrelada à atuação de professora, dramaturga e militante para pautar temas voltados à educação, cultura, direitos das mulheres e da comunidade LGBTQIA+, além do movimento antirracista. Já a deputada estadual Lina Brasil (PSOL-SE) contou que recorreu ao bom humor para driblar o preconceito encontrado no interior de Sergipe e construir uma outra forma de fazer política.

Carolina Iara, deputada estadual da Bancada Feminista (PSOL-SP) ressaltou a urgência de resolver a dificuldade que crianças intersexos estão enfrentando para fazer o CPF. Iara também instigou as colegas e demais presentes no encontro a pensarem em como avançar para além da representatividade. “Para além de eleger pessoas LGBTs e de minorias sociais, que possamos protegê-las para que não tenhamos mais Marielles. Porque ter Marielle Franco morta, hoje, é uma derrota para nós”, ponderou.

Além de parlamentares, evento contou com participação de representantes da sociedade civil e do governo federal

Foto: Maíra Nunes/Diadorim

Desafios nacional

Erika Hilton, eleita deputada federal, ressalto que a política trans e travesti pode ser ramificada e abrir muito mais. “A política trans e travesti não é a política que dialoga apenas com questões trans e travestis, como se pessoas trans e travestis fossem indivíduos à parte da sociedade e que não estivessem incluídas em toda a sociedade”, pontua. A política trans e travesti da qual a deputada propõe para o país é a que enfrenta fome e violência política de gênero, além de denunciar a opressão da segurança pública do país, a ausência de espaços de saúde e para educação.

“Nós não somos herdeiras da política. Nós sobrevivemos à fome, ao medo, ao abandono, ao desprezo do Estado, das nossas famílias e da religiosidade, das ameaças de morte, da brutalidade que acomete a nossa população diariamente”, ressalta. Diante desse posicionamento, Hilton avalia que o principal desafio que encontrará na Câmara dos Deputados será lidar com um Congresso fortemente conservador. Desafio que enfrentará não apenas em pautas sociais e LGBTs. Na avaliação dela, questões climáticas prometem demandar muito empenho.

Duda Salabert, que será colega de Erika Hilton na Câmara, fez coro à análise da parlamentar paulista sobre as dificuldades que serão impostas por um Congresso conservador nas pautas especificamente LGBTI+. “Mas temos uma estratégia que é o Executivo, junto à Secretaria LGBT e ao Ministério dos Direitos Humanos. Eu fui eleita na câmara mais conservadora da história e consegui desenvolver vários projetos pautados para a comunidade LGBT junto à prefeitura de Belo Horizonte, que é o que vamos replicar em esfera federal”, pontua. “Eu sou uma travesti, mas temos diversas pautas políticas”, diz a minieira.

Já do ponto de vista ambiental, como o enfrentamento das mineradoras e a luta para uma maior rigidez em barragens de rejeitos minerais, Duda Salabert avalia que enfrentará bastante resistência, visto que o poder econômico tem uma influência grande no cenário político brasileiro, inclusive no Poder Federal. “No âmbito econômico, que é a pauta fundamental se queremos de fato uma transformação profunda na sociedade para todos os estratos sociais, vamos ter resistência nos tanto no Congresso quanto no Governo Federal. Por isso, a importância de levar uma articulação maior dos movimentos sociais e saber cobrar não só o Legislativo, mas também do Executivo”, instiga a deputada federal.

Posse

Os deputados federais, estaduais e distritais eleitos em outubro do ano passado tomam posse no dia 1º de fevereiro. No caso dos que vão ocupar cargo na Câmara, em Brasília, a sessão está marcada para começar às 10h, no Plenário Ulysses Guimarães.

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