

Pesquisa inédita foi feita pela Agência Diadorim nas assembleias legislativas dos 26 estados e do Distrito Federal
Esta reportagem é uma parceria da Agência Diadorim com Gênero e Número
Dos 209 projetos de lei pró-LGBTQIA+ apresentados desde 2019 nas assembleias legislativas do país, 84 foram propostos por parlamentares do PSOL, o que representa 40,19%. O partido é o que mais tem proposições desse tipo, de acordo com um levantamento inédito feito pela Agência Diadorim nos 26 estados e no Distrito Federal.
Os deputados e as deputadas do PSOL são responsáveis por 80 projetos de lei apresentados individualmente e outros quatro em parceria com diferentes partidos. As áreas com maior número de projetos são “saúde” e “dados e estatísticas”, ambos com 10 proposições cada. Outros temas recorrentes incluem datas e celebrações (nove), políticas afirmativas (sete) e nome social (sete).
No que diz respeito à distribuição geográfica, os parlamentares do PSOL de São Paulo foram os que mais apresentaram projetos de lei a favor da população LGBTQIA+, totalizando 27 proposições. Em seguida, estão o Rio de Janeiro, com 24 projetos, e o Distrito Federal, com 10 projetos.
A taxa de aprovação desses projetos propostos pelo PSOL é de 4,76%. Dois projetos foram aprovados no Distrito Federal, um no estado do Pará e outro no Rio de Janeiro. Em São Paulo, apesar do alto número de proposições, nenhum PL foi aprovado.
Os três parlamentares que mais apresentaram projetos, neste período, são do PSOL. Renata Souza (PSOL-RJ), primeira da lista, propôs 17 leis à Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro). Já Carlos Giannazi e Érica Malunguinho propuseram, respectivamente, 11 e 10 PLs (nenhum foi aprovado).
Para o presidente nacional do PSOL, Juliano Medeiros, “a extrema direita tem se utilizado de uma agitação de cunho sexual e moral reacionária e coloca as pessoas LGBTQIA+ como inimigas da sociedade, em uma clara estratégia de medo”. Isso justifica, segundo ele, a dificuldade de se aprovar PLs pró-LGBTQIA+ nas casas legislativas.
Mas os temas de interesse da população dissidente de gênero e sexualidade ainda são vistos “de modo equivocado” também pela esquerda tradicional, afirma Medeiros. “Essa barreira precisa ser rompida para que a população LGBTQIA+ ganhe maior representatividade. É isso que buscamos em nosso trabalho no PSOL”, diz.
Nas eleições de 2022, o partido elegeu nove parlamentares LGBTQIA+, entre eles uma mulher trans, a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP/0. “Ainda é pouco”, acredita Juliano Medeiros, “mas é um caminho que se abre”. “Financiar corretamente essas candidaturas também é um passo fundamental”, defende.
O segundo partido com mais proposições de projetos de lei pró-LGBTQIA+, de acordo com o levantamento da Diadorim, é o PT. Foram 44 PLs desde 2019, o que representa 21,05%. A taxa de aprovação é de 13,64%.
Ao comentar os números, a secretária nacional LGBT do Partidos dos Trabalhadores, Janaína Oliveira, diz que “não podemos reduzir a participação do PT aos últimos 4 anos, quando o país estava em um governo com características nazifascistas”.
De acordo com Oliveira, o maior partido de esquerda do Brasil tem adotado algumas estratégias para se aproximar das pautas e demandas do Movimento LGBTQIA+, se posicionando “de forma nítida em defesa dos direitos dessa comunidade, apoiando questões como a criminalização da LGBTfobia, o casamento igualitário e a adoção por casais homoafetivos, por exemplo”.
“Esse ponto é tão importante para nós que, em todos os ministérios do governo Lula há a preocupação com a diversidade, que é uma orientação de governo tratar a questão LGBTQIA+ de forma transversal”, defende Oliveira. “Temos uma secretária nacional LGBT travesti, temos ministra abertamente LGBTQIA+, enfim. Nossos esforços foram direcionados para o macro, agora temos espaço para trabalhar as especificidades.”
Janaína Oliveira destaca que “não há uma competição de propostas, mas uma soma de ativismo permanente e solidário”. “Os parlamentares de diferentes partidos têm liberdade para propor projetos de lei, e isso pode variar de acordo com as agendas e prioridades de cada legenda”, explica.
O levantamento inédito feito pela Agência Diadorim contabilizou 209 projetos de lei em defesa dos direitos da comunidade LGBTQIA+ apresentados por parlamentares nas assembleias estaduais, desde 2019. Isso equivale a quase um projeto por semana ou aproximadamente quatro por mês.
Dentre essas 209 propostas legislativas pró-LGBTQIA+ apresentadas, 25 já foram aprovadas. A primeira delas, de autoria do deputado distrital Fábio Félix (PSOL-DF), foi proposta em 26 de fevereiro de 2019 e aprovada em 25 de junho do mesmo ano. Essa lei estabeleceu a inclusão de conteúdos voltados para a população LGBT na programação do Dia de Prevenção ao Suicídio do Distrito Federal. Ela foi sancionada em 8 de agosto de 2019 pelo governador Ibaneis Rocha (MDB).
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entrarA maioria dos projetos aprovados, um total de seis, tem como foco a instituição de datas comemorativas ou de enfrentamento à LGBTfobia. Além disso, existem quatro leis que estabelecem penalidades administrativas para pessoas e estabelecimentos em casos de discriminação por orientação sexual e identidade de gênero. Esses projetos são semelhantes à lei em vigor em São Paulo desde 2001, que prevê advertências, multas e até mesmo a cassação do alvará de funcionamento em casos de crimes dessa natureza.
Outras áreas contempladas pelas leis aprovadas incluem a implementação de mecanismos de coleta de dados, formulação de políticas públicas, medidas simbólicas como nomear unidades de saúde em homenagem a militantes ou pessoas LGBTQIA+ e a garantia do uso do nome social. Cada uma dessas categorias acumula três leis aprovadas. No caso do uso do nome social, destaca-se uma lei pioneira no Distrito Federal, também de autoria do deputado Fábio Félix, que assegura o respeito ao uso do nome social em lápides e atestados de óbito de travestis, mulheres transexuais, homens transexuais e outras pessoas trans.
Além disso, foram aprovados dois projetos para a criação de conselhos estaduais e uma única lei relacionada ao esporte, no estado do Amapá, apresentada pela deputada estadual Cristina Almeida (PSB). Essa lei instituiu infrações administrativas por atos de racismo e LGBTfobia em instalações esportivas.