7 em cada 10 educadores defendem trabalhar diversidade sexual e de gênero nas escolas
Levantamento aponta, ainda, que 60% dos mais de 4 mil profissionais participantes em todo o Brasil acreditam que o ambiente escolar é propício ao desenvolvimento dessas temáticas
Uma pesquisa realizada entre abril e maio pela Associação Nova Escola, em parceria com a TODXS, ONG de empoderamento da comunidade LGBTQIA+, revelou que 70% dos profissionais da educação acredita na importância de abordar a diversidade sexual e de gênero nas escolas. O estudo abrangeu 4.035 profissionais da área em todo o Brasil e trouxe à tona percepções e desafios relacionados a essa temática.
O levantamento constatou que 7 em cada 10 educadores reconhecem a necessidade de abordar questões ligadas à diversidade sexual e de gênero com os alunos. Além disso, 60% dos profissionais acreditam que o ambiente escolar é propício para explorar e desenvolver essas temáticas. Entre os educadores que se identificam como LGBTQIA+, o número chega a 8 em cada 10.
Em um país com altos índices de violência contra a comunidade LGBTQIA+ (segundo dados do Observatório de Mortes e Violências contra LGBTI+, duas pessoas LGBTQIA+ morreram a cada três dias no Brasil em 2022), a pesquisa também evidenciou que as escolas não estão imunes a essa realidade. Metade dos profissionais LGBTQIA+ relatou ter testemunhado casos de LGBTfobia no ambiente escolar, com 90% desses incidentes envolvendo alunos como agressores.
“Os últimos estudos da Nova Escola têm demonstrado que o ambiente escolar reflete a sociedade. Quando negligenciamos a saúde mental e socioemocional dos jovens, vemos o surgimento de episódios de violência. Da mesma forma, quando o racismo não é tratado, casos de discriminação racial envolvendo alunos e até professores proliferam. As questões de diversidade sexual e de gênero seguem a mesma lógica. Portanto, é imperativo abordar esses tópicos para que a escola seja um local onde os estudantes aprendam a conviver com as diferenças e abandonar preconceitos e estereótipos”, observou Ana Ligia Scachetti, pedagoga e CEO da Nova Escola.
As dificuldades
Apesar de reconhecerem a importância de levar esses assuntos para a sala de aula, apenas metade dos professores afirmou se sentir confortável para promover discussões sobre diversidade sexual e de gênero nas atividades escolares. O receio em relação à interferência das famílias dos alunos nesse tipo de discussão foi apontado como uma das principais barreiras a serem superadas.
Além disso, a pesquisa evidenciou a falta de preparo das escolas para lidar com o assunto. Apenas 3 em cada 10 professores disseram que os alunos têm acesso a um ambiente acolhedor quando enfrentam bullying relacionado à sua orientação sexual, e somente 2 em cada 10 professores afirmaram que a escola incentiva o uso de materiais pedagógicos para discutir o tema.
Akira Borba Colen França, gerente de pesquisa da TODXS, ressaltou a importância desse levantamento para promover debates sobre questões frequentemente negligenciadas pelo poder público e pela sociedade em geral. “Ao expor a LGBTfobia por meio de dados concretos, a pesquisa desempenha um papel essencial, já que muitas vezes há uma falta de compreensão por parte do poder público sobre a necessidade de ações estruturais, incluindo a formação cidadã contra a LGBTfobia. A transformação passa pela Educação”, destacou Akira.
“Ainda que tenhamos leis que há duas décadas preveem a educação da cultura negra nas escolas, esses tópicos ainda são amplamente ignorados. Menos ainda são abordados temas não regulamentados por lei, como a diversidade sexual e de gênero”, acrescentou. Ela defende, ainda, ser crucial trazer essas discussões para a sala de aula, “pois isso cria um ambiente seguro para professores lidarem com essas questões e também proporciona um porto seguro para alunos LGBTQIA+, que frequentemente veem na escola um refúgio em meio a famílias que não acolhem essa diversidade”, conclui.
Metodologia e perfil dos respondentes
O levantamento trata-se de uma pesquisa espontânea com 4.035 professores de todo o Brasil via formulário online, realizada do dia 12 de abril ao dia 4 de maio de 2023. A maioria (45,1%) dos respondentes são do Sudeste. Quanto à função que exercem, 70,9% são professores, 11,4% coordenadores e 4,1% estão em cargo de direção.
A maioria é da rede pública de ensino: 43,8% atuam na Rede Pública Municipal, 33,1% na Rede Pública Estadual, 3,8% na Rede Pública Federal e 21,9% na Rede Privada. Grande parte deles atende crianças: 21,5% trabalham no Ensino Infantil, 34,5% no Fundamental I, 40,9% no Fundamental II, 33% no Ensino Médio. Apenas 9,7% estão no EJA e 13,2% no Ensino Superior.
Em relação à identidade de gênero, 69,9% dos respondentes são mulheres cisgênero, 27,7% são homens cisgênero, 1% não-binário, 0,7% são homens transgênero e 0,7% mulher trânsgero. Sobre a sexualidade, 81,1% são heterossexuais, 8,2% se afirmam homossexuais, 5,9% se identificam como bissexuais, 2,1% pansexuais e 1% assexual.
No cruzamento de informações sobre sexualidade e faixa etária, o percentual de profissionais da Educação que se identificam como LGBTQIA+ é maior entre os mais jovens e menor entre os mais velhos: 49,7% dos entrevistados de até 30 anos de idade se identificam neste grupo. Entre os profissionais LGBTQIA+, a defesa por inclusão da Educação de diversidade alcança percentual maior que a média geral.