Segunda edição da Marcha Trans e Travesti no centro do Rio de Janeiro, na última sexta. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Segunda edição da Marcha Trans e Travesti no centro do Rio de Janeiro. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
educação

Rede de estudos trans e travestis se articula para combater transfobia acadêmica

A recém-criada Rede de Estudos Trans-Travestis, que congrega pesquisadoras e pesquisadores trans, travestis e pessoas não-binárias nas Ciências Sociais e Humanas em diferentes regiões do país, divulgou nesta quarta-feira (22) uma nota-manifesto contra o que chama de “trans-epistemicídio – ou seja, “a deslegitimação de saberes e conhecimentos produzidos por pessoas trans e travestis”. O texto é uma resposta a manifestações de apoio ao sociólogo Richard Miskolci, que é considerado “persona non grata” entre transfeministas por seus posicionamentos contrários à utilização de termos como “cisgeneridade” e “cisnormatividade”.

“A diminuição do acesso e a permanência dessa população em ambientes acadêmicos, bem como a desvalorização de suas construções na academia e o esvaziamento de suas perspectivas e pontos de vista, são algumas das consequências do trans-epistemicídio”, defende o coletivo.

No dia 7 de novembro, durante a programação do seminário “Identidades Trans e Travestis: cidadania, memória e coletividades”, promovido pela revista Cult e pelo Sesc Pompéia, na capital paulista, houve a leitura de uma carta coletiva, assinada por pessoas trans, travestis e entidades culturais e acadêmicas, declarando Miskolci, pesquisador e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), como persona non grata. “O transfeminismo considera esses conceitos-chave para deslocar e desnaturalizar a noção de ‘normalidade’ associada às experiências de pessoas que vivem de acordo com o gênero que lhe foi atribuído ao nascer”, pontua a Rede. 

Nos dias que se seguiram à leitura da carta, associações científicas como a Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS), o Núcleo de Estudos de Gênero Pagu e a Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs) saíram em defesa do sociólogo, classificando as críticas do movimento social como uma “ameaça à liberdade de cátedra” e mesmo à democracia.

Houve reações: discentes e ex-discentes do Pagu lançaram uma nota descordando do posicionamento do núcleo de pesquisa, e a Anpocs divulgou nova manifestação nas redes sociais em apoio à autonomia do movimento transfeminista.

Em nota divulgada nesta quarta, a Rede de Estudos Trans-Travestis contesta o lugar a que populações trans e travestis comumente são relegadas por pesquisas acadêmicas: “o de objeto de pesquisa, não como agentes e pessoas produtoras de conhecimento”. Além disso, o grupo salientar as desigualdades de poder envolvidas nas relações entre docentes cisgênero e estudantes trans e travestis, sobretudo no Brasil, considerado, pelo 15º ano consecutivo, o país que mais mata pessoas trans no mundo, como apontou o recente monitoramento da Transgender Europe (TGEU)

“Reiteramos, por meio desta nota, nossa criatividade, agência e reflexividade, assim como as nossas intelectualidades dentro e fora das esferas acadêmicas”, diz a nota. O texto na íntegra está disponível no blog da Rede.

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