Procuradora faz comentário LGBTfóbico em reunião no MP de Alagoas
Uma procuradora do Ministério Público de Alagoas (MP-AL) fez comentários LGBTfóbicos durante uma reunião do Colégio de Procuradores, na última quinta-feira (14 mar.), em Maceió. O microfone de Denise Guimarães ficou aberto no final da sessão, enquanto ela conversava com outro colega, o também procurador Marcos Barros Méro.
No áudio vazado, ao qual a Diadorim teve acesso, Denise comentava a ida de representantes do movimento LGBTQIA+ local e da Secretaria de Estado da Mulher e dos Direitos Humanos ao Ministério Público na semana anterior. No dia 7, o grupo se reuniu com o ex e com o atual procurador-geral de Justiça do estado, Márcio Roberto Tenório de Albuquerque e Lean Araújo, respectivamente, para discutir parcerias de combate à discriminação.
“Márcio deu até um carro”, criticou Denise. Ela se referia a um veículo cedido pelo MP-AL ao Grupo Gay de Maceió, em regime de comodato, que é usado pela ONG para atendimento de pessoas em situação de vulnerabilidade.
A promotora continuou a conversa, com alguns trechos inaudíveis. Em seguida, afirmou: “Deus disse: ‘Crescei e multiplicai. Quem disser que esses tais LGBT multiplicam, eu calo”, em recriminação às pessoas LGBTQIA+.
A reportagem procurou a assessoria de imprensa do Ministério Público de Alagoas para comentar o episódio. Em nota enviada após a publicação do texto, o órgão disse que “a respeito da reunião do Colégio de Procuradores de Justiça, ocorrida nessa quinta-feira (14), foi promovido um debate sobre políticas públicas afirmativas que objetivou a discussão sobre a reparação histórica do Estado no reconhecimento de direitos de populações vulneráveis, a exemplo de comunidades LGBTQIA+, quilombolas, indígenas e do povo preto”.
“O Ministério Público brasileiro, portanto, também o de Alagoas, tem o dever constitucional de promover a defesa intransigente de todos os direitos dessas comunidades, razão pela qual, não comunga com nenhum tipo de ação discriminatória praticada por qualquer um dos seus membros e servidores”, conclui o texto, sem citar os comentários LGBTfóbicos da procuradora.
A procuradora Denise Guimarães durante a reunião do Colégio de Procuradores.
Foto: Divulgação‘Hoje tudo é cota’
Na mesma reunião, os procuradores discutiram políticas afirmativas no MP-AL. Na ocasião, a procuradora Marluce Caldas criticou a ausência de mulheres em cargos no Ministério Público e ponderou sobre a necessidade de se criar estímulos para reverter esse quadro. Segundo Caldas, menos de 30% da equipe do MP-AL são mulheres.
“Nós estamos, mulheres, no patamar lá embaixo. As cotas são necessárias quando as pessoas estão num patamar mínimo possível. E é isso que eu noto aqui”, afirmou. “Não quero igualdade nem tomar lugar dos homens.”
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entrarDenise Guimarães foi contra a opinião da colega. “Eu fico preocupada com essa visão de sexo frágil”, disse. “Eu fico triste quando eu vejo… Assim… Não é o feminismo, mas é uma proteção, como se nós mulheres precisássemos dessa proteção”, acrescentou. “O [critério de seleção no] concurso no Ministério Público é quem passar com as notas melhores. Então não tem como haver uma ingerência… A não ser que se crie cotas, porque hoje tudo é cota. Então isso eu sou terminantemente contra.”
A procuradora também afirmou que “sempre quis alcançar promoções por questão de meritocracia”. Denise Guimarães está no Ministério Público desde 1984. Ela é filha do promotor José Auto Monteiro Guimarães e mãe do promotor Dênis Guimarães.
O procurador Sérgio Rocha Cavalcanti Jucá, que presidia a reunião, concordou com Denise Guimarães. “Querer colocar pessoas de qualquer sexo a forceps no Ministério Público: eu vou lutar sempre contra isso.”
* O texto foi atualizado às 17h15 de 15 mar. de 2024, para incluir o posicionamento do Ministério Público de Alagoas.