GTP+, no Recife, foi criado há 23 anos. Foto: Rafael Negrão/Divulgação
GTP+, no Recife, foi criado há 23 anos. Foto: Rafael Negrão/Divulgação
depoimento

GTP+: Há 23 anos, ONG acolhe pessoas com HIV/Aids no Recife

Instituição atua há 23 anos no empoderamento de pessoas vivendo com HIV dentro e fora dos presídios

Wladimir Reis, 62, foi testemunha da chegada da epidemia de HIV/Aids ao Brasil, nos anos 1980. “Em vida você já era uma pessoa morta”, conta o ativista, que há 34 anos também vive com HIV/Aids.

Pernambucano nascido em Recife, Wladimir transformou a própria história em luta contra o preconceito. Ele conta que viu o estigma avassalador e a discriminação brutal enfrentados por pessoas como ele, no seu estado natal, além de sofrer com a perda de muitos amigos e do companheiro, Alberto, que morreu em decorrência de complicações da síndrome.

Alberto e Wladmir se conheceram no trabalho, em uma empresa do ramo de barcos e lanchas, em 1978.  Alberto chegou a manter um “casamento de fachada” com uma mulher, como diz o ativista, porque sua família não aceitava o fato de ele ser gay. O namorado teve tuberculose e chegou a ser internado por alguns dias, no Recife, mas terminou morrendo em 1982. No dia do velório, lembra Wladimir, os familiares e amigos de Alberto se recusaram a se aproximar do caixão, com “medo” da doença. 

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 “Eu fiquei ao lado dele e todos os familiares dele, todas as pessoas que o conheciam ele não ficaram. Depois disso, os amigos que conviviam com as nossas intimidades se desligaram de mim”, lembra. “As pessoas mudaram de telefone, não atendiam, me rejeitaram.” 

Foi por causa do preconceito e para impedir que outras pessoas passassem por situações semelhantes àquelas, que Wladimir decidiu criar uma ONG. Em 1º de dezembro, o Dia Mundial da Luta Contra a Aids, o Grupo de Trabalhos em Prevenção Posithivo (GTP+), fundado por ele no Recife, celebra 23 anos de atuação. A missão deles é dar apoio a pessoas vivendo com o HIV/Aids e à população LGBTQIA+ encarcerada.

Wladimir Reis, 62, é fundador do GTP+. Foto: Divulgação

Wladimir Reis, 62, é fundador do GTP+

Foto: Divulgação

Fundado logo após a chegada do antirretroviral AZT no Brasil; segundo Reis, o medicamento trouxe esperança e perspectiva de futuro para as pessoas vivendo no HIV/Aids no país. O grupo nasceu de forma comunitária, fundado por pessoas LGBTQIA+ e pessoas de comunidades pobres que viviam com HIV/Aids. Um dos primeiros apoios recebidos pelo grupo foi da instituição alemã ASW e do SOS Corpo.

Com sede na Avenida Manoel Borba, nº 545, 1º andar, no Recife, o GTP+ tem contribuído significativamente para a vida de centenas de pessoas. Em 2019, a ONG atendeu 6.173 pessoas através de projetos como a “Cozinha Solidária”, que proporciona alimentação para pessoas vivendo com HIV, e o “Espaço Positivo”, projeto de acolhimento para pessoas que procuram instituições médicas,  e distribuiu 28.704 preservativos. 

Atualmente, o GTP+ busca ampliar sua atuação, enviando relatórios à ONU sobre a situação de pessoas vivendo com HIV/Aids e LGBTQIA+ no sistema prisional nordestino. O primeiro relatório foi enviado em 2022 com apoio do Com o apoio do Instituto de Desenvolvimento e Direitos Humanos (IDDH) e em 2023 a ONG participou do 53º Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra. 

Além das doações, a ONG recebe financiamento do Edital do Fundo LGBTI do Fundo Positivo, da UNESCO para  Ações de Testagens e aconselhamento em IST e do Fundo Brasil.

Ao relembrar toda a trajetória, Wladimir Reis emociona-se e faz um apelo por mais políticas públicas: “A gente era objeto de projeto, a gente nunca foi sujeito. Acho que é muito importante ressaltar isso, que vocês incentivem os LGBTs a se verem como sujeitos”. 

A resiliência do GTP+ ao longo desses 23 anos é uma narrativa de superação e comprometimento, destacando a importância contínua da prevenção e apoio às comunidades vulneráveis.

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