Editora da Diadorim participa de mesa sobre representação de pessoas trans no jornalismo, no Congresso da Abraji
No último dia 17 de julho, a editora e cofundadora da Agência Diadorim, Camilla Figueiredo, mediou um bate-papo no 19º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, promovido pela Abraji, sobre a realidade de jornalistas e comunicadores trans no Brasil e a cobertura trans feita pelo jornalismo.
O jornalista Caê Vatiero, co-fundador da Transmídia, e o vice-coordenador do Instituto Brasileiro de Transmasculinidades de São Paulo (IBRAT-SP), Ravi Spreizner, debateram a falta de abordagem das mídias hegemônicas sobre transexualidade e a realidade de jornalistas e comunicadores trans no mercado de comunicação.
Para Ravi, a mídia faz parte do processo de construção do olhar da sociedade perante pessoas trans. Isso porque, quando o assunto é identidade de gênero, os grandes veículos de comunicação trazem apenas narrativas de violência, dor ou histórias inéditas de superação. “Quando se chama uma pessoa trans para falar de educação, saúde? Por que em uma pesquisa aleatória que não fala sobre transexualidade os entrevistados são sempre pessoas cis?”, questiona Ravi.
O comunicador explica que falta por parte do jornalismo um compromisso sincero e de longo prazo de abordar pautas e olhar para pessoas trans como seres humanos no cotidiano. É essencial que a mídia entenda os transexuais como fontes para abordar questões além de gênero.
Além disso, segundo os palestrantes, não faltam pautas sobre pessoas trans para serem abordadas, mas sim interesse e compromisso por parte dos meios de comunicação. Falta na mídia acompanhamento e noticiabilidade de questões que envolvam a comunidade transexual, como por exemplo a dificuldade acesso à serviços públicos de saúde mental.
O baixo número de pessoas trans nas redações, para Caê, é resultado da invisibilidade e da estigmatização que as persegue. “Como o jornalismo parte da ‘verdade’ se o próprio jornalismo não enxerga corpos trans como verdadeiros?”, questiona. Na intenção de pautar a população transexual no Brasil com a profundidade necessária, o jornalista construiu junto com outros comunicadores a Transmídia.
O estudo Transfobia em Dados, realizado por Caê, mapeou e analisou os ataques transfóbicos no Twitter (X) direcionados às candidaturas trans e travestis que concorreram a cargos públicos em 2022. Os levantamentos obtidos apontam 665 ofensas transfóbicas, e as principais vítimas foram Duda Salabert (PDT) e Erika Hilton (PSol).
Outro dado coletado foi que 83% dos ataques foram feitos após as vítimas serem eleitas, o que para Caê apenas reforça como a existência de pessoas trans incomoda. “A maioria dos ataques eram no sentido de questionar a identidade de gênero, e não sobre discordância política. […] São comentários de deslegitimação daquela pessoa em vários aspectos”, explica o jornalista.
Como afirma Ravi, “a gente não está aqui reivindicando apenas o respeito ao nome, nós estamos reivindicando o direito à vida, aos direitos básicos […], assim como pessoas cisgêneras, mas em uma realidade muito mais intrínseca e radical”.
Texto publicado originalmente no site do Congresso Abraji. A cobertura oficial do 19º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo é realizada por estudantes, recém-formados e jornalistas integrantes da Redação Laboratorial do Repórter do Futuro, sob coordenação da OBORÉ e do Conselho de Orientação Profissional do Projeto. Conta com a parceria institucional da Abraji e apoio do Instituto de Pesquisa, Formação e Difusão em Políticas Públicas e Sociais (IPFD), da Jornalismo Júnior (ECA-USP) e da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) – Oficina de Montevideo. Reprodução permitida desde que citada a fonte.