“É um filme sobre o desejo de sonhar, um direito legítimo”, diz diretor de “Paloma”

O filme “Paloma” tem chamado a atenção no Brasil e no mundo. Após a estreia no Festival de Cinema de Munique, o longa foi o grande vencedor do Festival de Cinema do Rio e do Prêmio Félix de Cinema Brasileiro e agora pode ser visto também no Globoplay.

A obra conta a história de uma mulher trans que mora no interior de Pernambuco e sonha em casar na igreja, de véu e grinalda, mas seu sonho não é validado dentro de uma sociedade conservadora. 

Em entrevista à Agência Diadorim, o diretor Marcelo Gomes contou que o filme foi inspirado numa história real, que aconteceu na cidade de Saloá, em Pernambuco, descoberta por ele através do jornal. “Me emocionei com essa história porque eu acho que nela existiam muitas camadas e muitas contradições que tinham a ver com a nossa sociedade brasileira. Falava de amor, falava de preconceito, falava de fé, de conservadorismo, de ódio, mas falava principalmente de afeto”, lembra.

Para Gomes, contar essa história dentro de um dos países com alto índice de violência contra LGBTI+, especialmente pessoas trans, é muito importante. “[‘Paloma’] É um filme romântico, sobre alguém numa jornada de autoafirmação. Ela promove um ato revolucionário sem mesmo saber, ela consegue revelar todas as nuances de uma sociedade conservadora e machista”, resume o diretor. “É um filme que fala do desejo de sonhar, que é um direito legítimo de todos, toda cidadã e todo cidadão. Então enquanto a gente viver numa sociedade que promove o ódio e o desrespeito contra o diferente, a gente vai viver numa sociedade que segrega. Essa sociedade vai promover cada vez mais o ódio e a violência contra as mulheres e pessoas trans.”

O diretor Marcelo Gomes.

Foto: Mujica/Cinemateca Pernambucana

O roteiro de “Paloma” é assinado por Marcelo Gomes, Armando Praça (roteirista e diretor do filme “Greta”) e Gustavo Campos (que já realizou outros projetos com Marcelo Gomes). O filme também contou com consultoria de Tertuliana Lustosa, escritora e cantora do grupo de pagode A Travestis.

O roteiro e a escolha de elenco também tiveram contribuição da atriz estreante no cinema Kika Sena, que interpreta Paloma. “O teste dela não era bom, eu falei a ela: ‘Seu teste não é bom, mas seus dois olhos têm uma luminosidade que a Paloma precisa. A gente vai trabalhar e você vai chegar na Paloma, e não deu outra”, lembra Marcelo Gomes. Com o trabalho, Kika ganhou prêmios de Melhor Atriz em festivais no Brasil, França e Vietnã.

“Paloma” chegou a entrar na lista dos pré-selecionados para representar o Brasil no Oscar, processo que terminou na escolha de “Marte Um”, dirigido por Gabriel Martins. Em breve, o longa de Marcelo Gomes será exibido em festivais na Índia, Espanha, França e Bélgica. Depois dessa pequena turnê internacional, a ideia do diretor é criar uma série inspirada no filme. “Quem sabe a gente continua a história de Paloma depois do filme, uma história tão bonita que eu acho que vale a pena contar mais sobre ela”, planeja o diretor.