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Racismo: ator é chamado de ‘macaco’ por vizinho que conheceu em aplicativo

Agressor se enfureceu ao receber negativa; caso foi registrado na capital paulista

O ator Leonel Cassio, de 31 anos, registrou um boletim de ocorrência por injúria racial e ameaça contra um vizinho que conheceu em um aplicativo de relacionamento gay. O caso foi registrado na segunda-feira (1º), na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), na capital paulista. Cassio, que se preparava para ir ao trabalho, foi chamado de “macaco” ao se recusar a encontrar o agressor.

Print da ofensa racista na conversa entre Leonel Cassio e seu agressor; homem chama o ator de macaco
Print da ofensa racista na conversa entre Leonel Cassio e seu agressor.
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Apesar de morarem no mesmo condomínio, no bairro da Bela Vista, região central, Cassio afirma nunca ter encontrado o agressor. Além do aplicativo de paquera, os dois mantinham conversas pelo Instagram — plataforma em que o episódio de racismo ocorreu.

“Ele sempre flertava comigo e eu desconversava. Daí, na segunda-feira, ele começou a insistir que eu subisse no apartamento dele”, afirma o ator. Como precisava sair, Cassio sugeriu agendar o encontro para uma outra hora. “Daí ele começou a ficar muito agressivo, disse que eu tinha que chegar lá até um determinado horário. Foi quando ele começou a me ameaçar.”

A discussão escalou: “Enquanto ele estava xingando minha mãe, me xingando de várias coisas, eu estava até tranquilo. Quando ele me chamou de ‘macaco’, não sei o que aconteceu”, lembra a vítima. “O cara não soube lidar com um ‘não’ e grita na minha cara que sou um macaco?”, questiona. O agressor apagou as ofensas instantes depois, mas Cassio conseguiu fazer registros a tempo.

Para Leonel Cassio, a atitude racista se resume na expectativa de que ele, homem preto, estivesse à disposição do agressor a qualquer momento. O boletim de ocorrência foi registrado ainda na segunda-feira. “Não quero que ninguém passe por isso porque dói. Mas quero seguir até o final, fazer justiça. Estou em um lugar de privilégio, de ter respaldos, mas e as pessoas que têm que engolir isso seco?”

O ator Leonel Cassio, 31, registrou boletim de ocorrência contra o agressor

Foto: Reprodução

Racismo e objetificação

O fato de uma pessoa sofrer homofobia não a impede de reproduzir racismo, explica Mauro Silva, mestre em Comunicação Social que estudou relações mediadas pelo aplicativo Grindr. “É um erro pensar que uma pessoa LGBTQIAP+ não reproduz preconceitos, tanto direcionados a indivíduos LGBTQIAP+ ou não. Classe, etnia, cor, gênero, tudo isso está posto e sobreposto em uma pessoa e não consegue ser separado do desenvolvimento de sua identidade”, pontua.

No Grindr, no entanto, Silva observou que o racismo se manifesta de formas mais silenciosas, como quando usuários pretos não são respondidos ou são até bloqueados ao enviar mensagens. Ao mesmo tempo, essas mesmas pessoas também convivem com a frequente fetichização de seus corpos. “O fetiche do pênis grande, grosso, do ser ativo, de tudo o que aponta para algo animalesco e menos humano. Nestes casos, podemos dizer que o processo de fetichização também passa por estruturas racistas”, avalia.

Para o pesquisador, incentivar discussões sobre racismo com mais frequência na comunidade LGBTI+ é um dos caminhos para enfrentar esse problema. “É importante denunciar o perfil da pessoa racista, fazer boletim de ocorrência e conversar com os mais próximos sobre situações que precisam ser repensadas. Algo importante, porém, é estar ciente do quanto cada um de nós consegue fazer. Não podemos esperar que somente a vítima se posicione e tome alguma ação”, conclui.

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