De ‘homofobia’ a ‘não-binário’: o vocabulário LGBTI+ nos discursos de Bolsonaro
Reportagem da Diadorim analisou discursos de Bolsonaro e Lula transcritos pela Abraji
Em discursos de janeiro de 2019 a fevereiro de 2021, o presidente Jair Bolsonaro (PL) usou mais de 20 vezes palavras como “homossexuais”, “homofobia”, “gays” e “não-binário”. Esses números são de um levantamento feito pela Agência Diadorim com base no Pinpoint da Agência Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), que transcreveu discursos de Bolsonaro e Lula (PT), além de acórdãos do TCU.
Ao todo, foram disponibilizados 727 arquivos de áudios do presidente e outros 664 do petista – neste caso, gravados durante seu segundo governo, entre junho de 2007 e dezembro de 2010. A Diadorim filtrou nos arquivos o uso de dez termos ligados à população LGBTI+: “homossexuais”, “homofobia”, “homofóbico”, “LGBT”, “gay”, “lésbica”, “transexuais”, “viado”, “sapatão” e “não-binário”. Jair Bolsonaro é quem mais usa essas palavras: há 25 ocorrências. Enquanto Lula tem cinco.
Dessas palavras, a mais repetida por Bolsonaro é “homofobia”, dita por ele sete vezes, em seis discursos. No vocabulário do presidente ainda estão “homossexuais”, quatro vezes citadas, e “não-binário”, que foi usada três vezes num mesmo discurso – o de 200 dias de governo, em 18 de julho de 2019. Nesta ocasião, ele criticou o vestibular da Universidade da Integração da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) que abriu vagas exclusivas para candidatos transgêneros e intersexuais. “Eu não sabia o que é não-binário – eu não vou falar aqui porque eu respeito vocês”, ironizou.
Jair Bolsonaro usou esses termos em entrevistas coletivas e eventos públicos. Entre eles está o discurso que fez na Assembleia de Deus, em Goiânia, em 31 de maio de 2021, quando criticou o Supremo Tribunal Federal (STF) e defendeu a indicação de um ministro “terrivelmente evangélico” para a Corte. Naquela noite, ele reclamou da tipificação da homofobia como crime de racismo.
“Gay” foi usado duas vezes ao longo do período, em dois momentos. Em um deles, o presidente da República relembra o kit anti-homofobia, barrado em 2014 pelo governo Dilma Rousseff (PT) e chamado por conservadores de “kit-gay”. “Muitos gays, homossexuais, concordam comigo que aquele tipo de material não está adequado para criancinha a partir de 5 anos de idade”, disse Bolsonaro, em entrevista.
Comparativo
O ex-presidente Lula, líder nas pesquisas de intenção de voto para 2022 e principal adversário político de Bolsonaro, também teve seus discursos transcritos pela Abraji. Nos áudios de junho de 2007 e dezembro de 2010, o petista usou cinco vezes palavras do tipo.
“Homossexual” foi repetida por Lula quatro vezes, em três eventos: duas vezes nas Conferência Nacional de Educação, em 1º de abril de 2010; uma vez na Conferência Nacional de Saúde, em 14 de novembro de 2007; e uma vez na solenidade do Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, em 27 de janeiro de 2009. Lula também falou a palavra “lésbica”, em 1º de abril de 2010, para criticar atos de discriminação.