Foto: Ludmilla Souza/Agência Brasil
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“Quando descobri a PrEP sob demanda como alternativa contra HIV/Aids”

Um relato para conhecer a nova modalidade de profilaxia pré-exposição ao HIV/Aids, distribuída no Brasil desde 2023

A Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu o protocolo da profilaxia pré-exposição (PrEP) sob demanda como método de prevenção contra o HIV/Aids em 2019, mas o Ministério da Saúde passou a recomendar seu uso no Brasil, e fornecer gratuitamente via SUS (Sistema Único de Saúde), apenas em 2023. Há cerca de um ano, fui atrás dessa “nova” PrEP, chamada também de intermitente. Descobri que é uma ótima alternativa para quem consegue ter alguma previsibilidade com relação ao sexo e explico por quê.

Eu já sabia da PrEP de uso contínuo — fornecida pelo SUS desde 2018 — há alguns anos, mas na minha realidade, já que eu não costumo ter múltiplos parceiros sexuais concomitantemente, entendia que não fazia sentido exigir tanto do meu organismo por precaução a um risco que era relativamente baixo, considerando que sempre uso preservativo.

Fiquei sabendo da nova modalidade de PrEP por meio de amigos e, de cara, pareceu ter mais a ver comigo. Procurei o médico clínico que me acompanha, mas ele ainda não sabia muito a respeito. Então corri atrás de pesquisar na internet mesmo, e encontrei bastante informação no site da Prefeitura de São Paulo. Daí, em novembro de 2023, fui na Estação Prevenção Jorge Beloqui, que fica dentro do metrô República, na região central da capital paulista.

A Estação Prevenção Jorge Beloqui visa atender as pessoas que estão de passagem ali no metrô República de maneira facilitada. Como eu nunca tinha ido lá, não tinha ficha nem nada, fiz um teste rápido de HIV e de creatinina (que mede a função dos rins), falei que queria fazer uso da PrEP sob demanda e saí de lá com um frasco de 30 comprimidos e as orientações de como usar.

Imagem: Divulgação/Prefeitura de São Paulo

A orientação é de que o retorno ao serviço de saúde ocorra em até um mês após o início do uso da PrEP. Para o primeiro retorno, busquei o CTA (Centro de Testagem e Aconselhamento) Henfil, também no Centro de São Paulo. Por ter uma estrutura mais robusta, é prestado um atendimento mais completo. Teve início então uma série de exames (hepatites, sífilis, gonorreia, HIV/Aids, clamídia, creatinina), conversas sobre o meu modo de vida, práticas sexuais.

Como era a minha primeira vez no CTA Henfil, tive direito a apenas um frasco de 30 comprimidos novamente. Digo isso porque depois que você passa a fazer o acompanhamento em um mesmo lugar, você pode pegar mais de um frasco por vez, conforme a necessidade e o tratamento a ser realizado.

Foi lá no CTA Henfil, em um dos meus retornos, que eu soube que a farmacêutica produtora da PrEP fornecida pelo SUS só garante a máxima eficácia do tratamento se os comprimidos forem consumidos em até 30 dias após a abertura do frasco. Isto é, a validade do medicamento fechado é a que está no rótulo, mas depois de aberto o frasco, o ideal é tomá-los em até 30 dias para ter maior garantia de prevenção*.

O detalhe é que essa informação foi repassada ao pessoal do CTA Henfil por outro paciente, que teve acesso à bula (os frascos não são entregues com a bula). Nenhum dos vários cartazes no local falava sobre isso, o que chamou minha atenção. Nesse sentido, dá dó abrir o frasco, tomar os quatro comprimidos relativos a uma relação sexual e, se não for mais usar nos 30 dias seguintes, ter que descartar 26 comprimidos, como já aconteceu comigo.

Mas avalio toda essa assistência prestada pelo SUS muito positiva, pois tive acesso aos exames, medicamentos e às orientações gratuitamente. Acabou que, desde que comecei a fazer uso da PrEP sob demanda, já fiz muito mais exames e procedimentos de saúde do que teria feito se não tivesse buscado esse atendimento específico. Sinto que estou mais atento à minha saúde, e acompanhando tudo com maior frequência.

Com relação especificamente à PrEP sob demanda, entendo que é uma ótima alternativa de prevenção ao HIV/Aids para quem consegue se organizar com relação aos horários de cada dose, antes e depois da relação sexual. Uma pessoa mais atrapalhada pode preferir tomar continuamente um comprimido por dia, no mesmo horário, para não ter chance de esquecer ou perder o tempo das doses. O mais importante é fazer uso da PrEP escolhida combinada com a camisinha, que protege também de outras ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis).

*A Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo emitiu nota informativa sobre orientação quanto à estabilidade do medicamento da PrEP oral fabricado pela Blanver, repassando a orientação constante na bula. Não há, entretanto até o momento, orientação formal do Ministério da Saúde sobre o assunto.

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João Menezes

Homem cis, gay, olindense, designer da Agência Diadorim. Gosto de me balançar na rede nas horas vagas (ou não vagas).

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