Morre Abby Moreira, primeira trans concursada em uma Guarda Civil no país
Morreu na manhã deste sábado (24 jun.) a guarda civil municipal de Jaboatão do Guararapes, no Grande Recife, Abby Silva Moreira, 46. Ela foi a primeira mulher trans concursada em corporação deste tipo no país. O corpo de Moreira foi encontrado dentro da casa dela, no bairro de Candeias, na mesma cidade onde trabalhava.
De acordo com pessoas próximas a Abby Moreira, uma equipe da Secretaria Executiva de Direitos Humanos de Jaboatão, onde a guarda municipal estava alocada, foi fazer uma visita a ela e a encontrou morta. A Diadorim procurou a Secretaria de Defesa Social do estado para saber informações sobre possível investigação, mas não obteve retorno até a publicação deste texto (atualizaremos assim que houver um posicionamento).
Ao G1, a Prefeitura de Jaboatão informou que Moreira teve um mal súbito enquanto dormia. A causa da morte será investigada pelo Serviço de Verificação de Óbito (SVO).
O corpo da guarda civil será sepultado ao meio-dia do domingo (25 jun.) no Cemitério da Muribeca, em Jaboatão.
Primeira trans na guarda civil
Nascida no Rio de Janeiro, Moreira viveu em Pernambuco por mais de 30 anos. Desde 2017, ela era guarda municipal de Jaboatão. “Fui a primeira mulher trans a ser empossada em uma guarda civil municipal. Depois de mim, uma se assumiu [transexual] após 25 anos de serviço”, contou a servidora pública em entrevista à Diadorim, publicada no dia 10 de fevereiro de 2022, ao denunciar casos de assédio moral a dos quais era vítima na corporação.
Ela chegou a ter problemas de saúde e foi afastada temporariamente do trabalho. O Sindicato dos Guarda Municipais do Jaboatão dos Guararapes (Sindiguardas) protocolou no Ministério Público de Pernambuco (MPPE) uma denúncia contra o inspetor Admilson de Freitas.
À reportagem, Moreira contou ainda que era desrespeitada recorrentemente por colegas e chefes, que não reconheciam sua identidade de gênero. “Eles sempre me trataram pelo masculino, negando meu gênero, desrespeitando, até a questão do banheiro era muito sofrida. Claramente eu não era, nunca fui bem quista ali”, disse.
Procurada pela Diadorim, a Prefeitura do Jaboatão dos Guararapes informou, por meio de nota, que estava prestando assistência à servidora e guarda municipal e determinou a abertura de processo administrativo para apurar as denúncias. Também reforçou “que não compactua, de forma alguma, com qualquer tipo de ato discriminatório”.
No dia 11 de fevereiro, um dia depois da publicação da entrevista, a prefeitura exonerou o chefe de Abby Moreira e, em seguida, realocou a servidora: ela saiu da Secretaria Executiva de Ordem Pública e de Mobilidade e passou a trabalhar na Secretaria Executiva de Direitos Humanos.