Eduardo Leite é alvo de episódios homofóbicos na campanha no Rio Grande do Sul
Único ex-governador brasileiro declaradamente gay, Eduardo Leite (PSDB), que tenta reeleição no Rio Grande do Sul, tem sido vítima de episódios considerados homofóbicos ao longo da campanha eleitoral neste segundo turno. Leite foi eleito governador em 2018, mas renunciou em março deste ano para tentar sair como candidato à presidência pelo PSDB, o que acabou não dando certo. De volta à disputa pelo governo do estado, enfrenta o bolsonarista Onyx Lorenzoni (PL).
O primeiro episódio ocorreu em 13 de outubro, em uma peça publicitária veiculada em rádios gaúchas. Lorenzoni (PL) disse que o estado terá “um governador e uma primeira-dama de verdade”, caso seja eleito.
Eleitores, jornalistas e outros políticos, como o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) e a senadora Simone Tebet (MDB-MS), postaram mensagens de apoio a Eduardo Leite.
“Nesses tempos tão difíceis, em que tentam a todo custo nos separar uns dos outros, é motivador ver a sociedade e a opinião pública majoritariamente unidas para condenar demonstrações de homofobia. Não ao preconceito! O amor, o respeito e a tolerância falam mais alto”, postou Leite, em sua página no Twitter.
No dia seguinte (14 out.), Onyx Lorenzoni se recusou a apertar a mão de Eduardo Leite após debate realizado na rádio gaúcha GZH. Na ocasião, em que o candidato do PSDB questionou a fala anterior do bolsonarista. Lorenzoni disse que respeita a sexualidade de Eduardo e que o adversário estaria se “vitimizando”.
A ONG Outra Visão LGBT, do Rio Grande do Sul, afirmou que as atitudes homofóbicas do candidato do PL despertam o voto da comunidade para Eduardo Leite. “O fascismo e a violência trazidos por esse candidato [Onyx] não podem levar o Rio Grande do Sul a ser um estado mais violento do que já é para a população LGBT. Por isso, nosso voto crítico em Leite se faz necessário, pelo estado democrático de direito.”
Mudança
Em setembro, a Diadorim publicou reportagem analisando o plano de governo de Eduardo Leite para LGBTI+. Ao contrário de 2018, quando foi eleito governador do estado e não citou uma vez sequer a sigla em suas propostas, em 2022 essa população LGBTI+ passou a ser contemplada com duas propostas diretas.
O candidato propõe criar casas de abrigo para transexuais vítimas de violência e desenvolver um plano estadual voltado à pessoa LGBTI+. O documento, de 58 páginas, também cita o termo “diversidade” em cinco trechos, referindo-se à valorização da pluralidade.
A inclusão da pauta LGBTI+ entre as promessas de campanha ocorreu depois de Leite falar abertamente sobre ser gay no programa “Conversa com Bial’, da TV Globo, em julho de 2021. À época, ele se preparava para disputar as prévias do PSDB que definiriam o candidato da sigla na disputa presidencial deste ano — o gaúcho acabou sendo derrotado pelo paulista João Doria, que posteriormente abriu mão de sua candidatura.
Ao fazer a declaração, Leite afirmou que esperava contribuir para que as pessoas sejam reconhecidas por suas capacidades, e não pela orientação sexual. “Sou um governador gay, não sou um gay governador. Tanto quanto [Barack] Obama nos Estados Unidos não foi um negro presidente, foi um presidente negro. E tenho orgulho disso”, disse.
Apoio do PT
Na última segunda-feira (24 out.), o presidente do PT no Rio Grande do Sul, Paulo Pimenta, divulgou nota recomendando o “voto crítico” no candidato do PSDB no segundo turno.
Assinada por outros dirigentes da legenda no estado, a nota diz que as “divergências com Leite são muitas e conhecidas pela sociedade gaúcha. Mas agora é a hora de defender o Brasil e o Rio Grande da ameaça representada pelas candidaturas de Bolsonaro e Onyx”.