Evento aconteceu em 14 jul., no Espaço Parlapatões. Foto: André Nery/Diadorim
editorial

Especialistas falam da importância do jornalismo independente para as eleições e pautas LGBTI+

Na última quinta-feira (14 jul.), a Agência Diadorim realizou uma mesa de discussão sobre a relação entre democracia, jornalismo independente e as lutas do Movimento LGBTI+. O evento, que aconteceu no Espaço Parlapatões, na região central de São Paulo, contou com a participação da jornalista Fernanda Giacomassi, coordenadora de comunicação da Ajor (Associação de Jornalismo Digital), e do advogado Renan Quinalha, professor de Direito da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). A mediação foi feita pela editora da agência, Camilla Figueiredo.

Pesquisador e autor de livros importantes sobre a temática, Quinalha traçou um breve panorama da história do Movimento LGBTI+ no Brasil, que começou a se organizar no país no século 20, em plena ditadura militar, e teve como influência a Revolta de Stonewall, nos Estados Unidos. As reivindicações dos “homossexuais”, como o grupo era chamado nos anos 1970, tiveram papel importante no processo de redemocratização, junto com o movimentos Negro e Feminista.

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Entre os primeiros legados da organização de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais estão, afirmou o advogado, as denúncias de violência policial contra essa população, a desconstrução de estigmas e o fortalecimento de uma política pública de saúde para controle da epidemia de HIV, que refletiu na criação do SUS (Sistema Único de Saúde).

A partir dos anos 1990, segundo Quinalha, o movimento passou a ter mais projeção, com as grandes paradas LGBTI+ tomando as ruas de várias cidades brasileiras, e mudanças importantes no setor cultural, incluindo maior espaço na mídia para representações um pouco menos estigmatizadas. Nos anos 2000, as mudanças significativas surgem em um contexto de cidadania pelo consumo, nas conquistas fundamentais de visibilidade e na garantia de direitos através do STF (Superior Tribunal Federal) – embora com limitações em alguns aspectos, a exemplo do direito à liberdade de gênero, que faz alguns espaços ainda impedirem pessoas trans de usarem o banheiro de acordo com sua identidade.

Esse processo de transformação, ressalta o professor, foi acompanhado pela imprensa ao longo de quatro décadas. “O Movimento LGBTI+ sempre precisou de cobertura midiática para dar visibilidade”, diz. “No passado, era difícil encontrar notícias sem tom depreciativo. O que vem mudando com o tempo. E a Diadorim representa um ciclo histórico na cobertura exclusiva da pauta.”

Mídia

A importância de veículos de comunicação independentes, como a Diadorim, foi tema da fala da representante da Ajor, a jornalista Fernanda Giacomassi, que destacou o papel da diversidade em pautas, na estrutura das redações e no conteúdo produzido por esses grupos.

“O jornalismo independente não precisa se pautar por um financiamento pensado por anunciantes, não é pensado para a elite brasileira”, explicou. Criada em 2021, a Ajor atualmente é composta por 87 organizações de todo o Brasil. “E a gente não pode falar mais de jornalismo sem abarcar o jornalismo independente feito em todas as regiões do país.”

Entre os exemplo de trabalho importante do jornalismo independente usados por Fernanda Giacomassi estão as reportagens da Agência Pública sobre o empresário Samuel Klein, que manteve um esquema de exploração sexual de crianças e adolescentes dentro da sede das Casas Bahia, e a denúncia do Portal Catarinas sobre um aborto negado por juíza de Santa Catarina a uma menina de 11 anos.

Giacomassi chamou atenção também para os frequentes ataques contras jornalistas no Brasil, sobretudo em ambientes virtuais. Entre os autores desses ataques estão autoridades políticas, que expõem e deslegitimam preferencialmente LGBTIs, negros e mulheres.

“Mais do que nunca, agora nas eleições a gente precisa apoiar o jornalismo independente para que ele continue atuando na fiscalização do governo”, afirmou. “E esse apoio inclui ajudar não apenas no financiamento dessas organizações, mas também dar visibilidade aos conteúdos produzidos, republicar e participar de eventos.”

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