Brasileiros vão às ruas em manifestação contra o presidente Jair Bolsonaro (PL). Foto: Maria Fernanda Pissioli/Unsplash
editorial

Nossos inimigos estão no poder

Derrotar Bolsonaro nas eleições é questão existencial para LGBTIs; com ele não haverá futuro

No mês do Orgulho LGBTI+, a Agência Diadorim inicia sua cobertura jornalística da corrida eleitoral, com foco nas pautas específicas da nossa comunidade, na defesa dos espaços democráticos e no combate à desinformação LGBTIfóbica.

Ao longo dos próximos meses, vamos monitorar propostas e manifestações dos presidenciáveis, levantar e divulgar informações sobre as candidaturas LGBTIs e fazer uma checagem criteriosa das notícias que circulam sobre nós. Tudo isso sem abrir mão do olhar crítico, objetividade e independência que orientam o nosso trabalho cotidianamente.

Mas é impossível fazer um jornalismo pautado pela promoção dos direitos humanos e pela defesa da população LGBTI+ ignorando o contexto insólito em que vivemos. Sem exagero: as eleições de outubro determinarão nosso futuro, enquanto comunidade, e seus efeitos terão repercussão mundo afora.

Mesmo antes de assumir a Presidência da República, Jair Messias Bolsonaro (PL) foi um detrator e opositor ferrenho do Movimento LGBTI+. Como chefe de Estado, ele atuou sistematicamente para implodir políticas públicas para nossa população, semear desinformação, atacar jornalistas e corroer os fundamentos da frágil democracia brasileira.

Sua base política nas assembleias estaduais foi responsável pelas mais atrozes tentativas de cerceamento dos direitos LGBTIs e de intimidação de adversários — sobretudo de parlamentares trans. No âmbito internacional, o Brasil tornou-se líder de uma cruzada ultraconservadora e antigênero, assumindo o lugar deixado pelos EUA de Donald Trump.

Que não haja dúvida: se o atual mandatário do país for reeleito, seremos os alvos privilegiados de um bolsonarismo fortalecido e renovado. Seguindo a cartilha de seu “irmão” húngaro, o premiê Viktor Orban, primeiro o Judiciário e a imprensa serão silenciados, depois nossos direitos cairão um por um, como peças de um dominó, até não haver mais nada entre nossos corpos e a violência total. Tudo isso em nome dos valores tradicionais, da “recristianização” da pátria e de uma suposta identidade nacional que nunca nos incluiu.

Derrotar o bolsonarismo nestas eleições é questão existencial para LGBTIs. Não haverá futuro para nós com Jair Messias Bolsonaro e seus apoiadores no poder. Não haverá liberdade nem diversidade com a reeleição deste homem. Portanto, não há acordo ou diálogo possível com quem nos quer ver eliminados ou de volta ao armário, vivendo uma invisibilidade aterrorizada.

É preciso debelar o desgoverno que se reflete em 33 milhões de famintos, no renovado genocídio da população indígena, na gestão criminosa da pandemia de Covid-19, na crescente devastação ambiental, na deterioração das condições de vida da imensa maioria da população e na persistente violência do racismo, da LGBTIfobia e da discriminação de gênero.

Nenhum eleito irá resolver sozinho os problemas fundamentais e urgentes do país. O caminho, tudo indica, será longo e exigirá ampla mobilização social. E esse caminho passa necessariamente pela derrota de Jair Bolsonaro.

Explicitar tal posicionamento não significa abrir mão da independência da Diadorim, que permanece um princípio inegociável. Seguiremos acompanhando criticamente todas as candidaturas e fiscalizando atentamente os governos e seus mandatários, seja quem for o eleito.

Hoje nossos inimigos estão no poder. Amanhã, oxalá, eles serão a escória de um tempo malfadado.

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Redação

A Diadorim é uma agência de jornalismo independente, sem fins lucrativos, engajada na promoção dos direitos da população LGBTI+. Criada para contar as histórias da nossa comunidade, fiscalizar o poder público, denunciar violências e promover um debate plural e crítico.

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